sábado, 3 de outubro de 2015

Amamentar é difícil sim!

Mas não impossível, pelo menos pra maioria das mulheres... Sobre a polêmica causada pelo post da Fernanda Gentil... Sou adepta do seguinte pensamento: nos falta informação!

Tudo o que eu pensei quando li o relato da Fernanda Gentil, amamentar não é fácil e poucas, pouquíssimas são as pessoas que nos dizem isso e, menos ainda são as que realmente nos ajudam e incentivam... Ouvi toda a sorte de história e conversa, mas nada, NADA, me fez desistir de amamentar, por quê? Porque eu confio no meu corpo e sei que com toda a dor do início, pela pega errada, eu seria capaz sim de amamentar! E hoje, MC tem quase 10 meses e segue mamando! 
Vale a pena a leitura, principalmente porque vejo que muitas mulheres passam a gestação sem procurar o mínimo de informação sobre o que está ocorrendo consigo e com seu corpo. 
Texto do mamatraca: "Hoje esse relato triste e emocionante da Fernanda Gentil está viralizado. Mas vale um olhar atento e questionador (não julgador!) sobre o assunto. Esse texto da Mamatraca é perfeito e resume exatamente os questionamentos que devemos fazer e a postura que devemos tomar, se a nossa intenção é mudar a história da amamentação no Brasil (e no mundo!) e ver nossas filhas e netas amamentando com menos dificuldades no futuro. Vamos INFORMAR!
------ texto de @Mamatraca -------
Sempre é motivo de lamento quando uma mulher não consegue o que aspira. Pior é ver essa mulher entendendo que a "culpa" é dela, sozinha.
Eu tenho uma crítica forte a esse depoimento: precisamos parar de aceitar e espalhar o mito da mulher defectível.
Certamente há mulheres que não podem amamentar. Para elas, toda o meu apoio, mas com a lucidez de que se tratam de casos mínimos, estatisticamente irrelevantes. E para esses casos, os raros casos de bebês que não poderiam receber o leite materno, um grande viva à tecnologia, que hoje pode oferecer substitutos que não lhes causem mal, como era no passado.
MAS esmagadora maioria das mulheres PODE amamentar. Com bico invertido, com cirurgia de redução. Até mães não biológicas PODEM amamentar.
No entanto, poucas mulheres amamentam. O problema real não está nelas - está no contexto.
Não há apoio social para a mulher que amamenta. Os profissionais de saúde simplesmente não são preparados para apoiar a amamentação. Oferecem condutas erradas e potencialmente fatais. O marketing dos substitutos do leite é desregulado, e através de patrocínios a indústria forma os profissionais, de acordo com seu interesse: o desmame.
Se as mulheres amamentassem muitas indústrias estariam hoje falidas. Amamentar é gratuito, ecológico e para todos: a antítese da lógica industrial.
Do ponto de vista individual, lamento a história dessa mãe e gostaria de lhe oferecer um forte abraço. Mas é impossível - ainda por cima considerando-se que se trata de uma figura pública - deixar de pontuar os perigos de um discurso que segue espalhando mitos sobre amamentação.
E o que é pior, usando o calcanhar de Aquiles de tantas outras mulheres para que não ampliem consciência do que importa: no Brasil não se amamenta porque a medicina não se importa e a indústria não deixa, a sociedade machista valida (afinal, peitos femininos são para deleite masculino né? ‪#‎ironia‬).
A conta sobra para a mãe (da lata, inclusive). O leite artificial sobra para o filho. Todo o resto tá dando risada.
Leite não seca. O que falta é respeito à fisiologia do parto, tão importante para a conjuntura perfeita dos hormônios, para a simbiose com o bebê. Falta deixar bebê mamar.
Apojadura pode demorar e colostro alimenta. Pega errada causa mais dor.
Amamentar não é automático. Dá trabalho. O que falta é orientação profissional de qualidade, apoio para a Livre Demanda, permissão para o estímulo das mamas, tempo, CULTURA DA AMAMENTAÇÃO.
Nos falta cultura, não sabemos mais amamentar porque nos roubaram as fontes dessa cultura. Não mamamos nós também em nossas mães, nosso corpo e células nem sabem o que fazer. Nossa própria construção afetiva em torno do tema é maculada: como fica a criança não amamentada, a quem o leite da vida foi negado, na idade adulta em frente a um pedido de dedicação TÃO extrema?
É necessário muito espaço emocional - e portanto muito apoio, muito acolhimento - para superar as barreiras de nossos próprios abandonos, violências e "desmames" sejam eles os literais ou os subjetivos, aqueles que passamos a vida inteira apenas pelo fato de sermos mulheres.
Chocolate e escada!? "O que foi que eu fiz de errado?" Só provam o nível de desconhecimento de uma pessoa como ela e tantas outras sobre a fisiologia da amamentação. Onde estavam os profissionais que a cercaram para esse desfecho? Como pode essa mulher acreditar que uma noite mal dormida desmamaria seu filho?
Parem, apenas parem de espalhar, acreditar, fomentar e atender os mitos que nos mantém submissas a essa cultura desempoderante. Do não amamentar - como o sistema quer - e pagar sozinha o custo alto da frustração.
Para quem não amamentou, meu abraço.
Dividam essa conta com seu profissional de saúde de pré natal, com o seu obstetra, com o neonatologista, com o pediatra do seu filho, com seus pais, com o pai da criança, com cada olhar torto que recebeu na rua, com a indústria de leite artificial, com as revistas "para mães", com os blogs que fazem publicidade de substitutos do leite, com o governo, com seu chefe e a licença maternidade tosca que sustentamos, com a vizinha que contou histórias fantasmagóricas de peitos caídos, com cada atriz e figura pública que disseminou informação mal ajambrada para apaziguar a própria culpa.
E vamos em frente, na próxima geração a gente conserta isso."

Mais sobre o assunto: Carta à Fernanda Gentil

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